Família pede regras mais rígidas na aviação privada 3 anos após queda de helicóptero que matou piloto e copiloto

  • 17/09/2025
(Foto: Reprodução)
Piloto de Ribeirão Preto (SP), João Augusto Tremeschin, morreu após queda de helicóptero em São Paulo Reprodução/Redes sociais Três anos depois da queda de um helicóptero que matou duas pessoas na Grande São Paulo, familiares do copiloto João Augusto Tremeschin, de Ribeirão Preto (SP), pedem regras mais rígidas das autoridades brasileiras para a aviação privada. Isso porque, segundo documentos das investigações apresentados por parentes de Tremeschin, o laudo necroscópico do piloto Edison dos Santos Mendes Alves, que comandava a aeronave e também morreu no desastre, apontou a presença de cocaína e de ansiolíticos no organismo dele. Além disso, ele havia enfrentado recentemente um quadro de depressão. A família de Tremeschin argumenta que, por conta de normas menos rígidas do que na aviação comercial, o piloto teve autorização para assumir o voo, sem precisar passar por nenhum controle toxicológico. 📱 Siga o g1 Ribeirão Preto e Franca no Instagram "O piloto estava doente, não tinha condições de comandar um helicóptero. O Guto era um filho amoroso e profissional dedicado, extremamente cuidadoso com a segurança e não tinha que estar nesse voo. Não é possível que as autoridades não sejam capazes de tirar uma lição disso. A morte do Guto não pode ter sido em vão", afirma Tânia Veiga Hjertquist, mãe de Tremeschin. No relatório final sobre o caso (veja mais detalhes abaixo), o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) confirmou que a presença de cocaína e outras medicações pode ter contribuído para a desatenção do piloto em comando, mas não fez nenhuma recomendação específica às autoridades. "É possível que o uso de cocaína tenha degradado a capacidade do PIC [pilot in command] operar a aeronave de maneira adequada, contribuindo para a ocorrência", comunicou o órgão. O g1 aguarda um posicionamento atualizado da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Em contato anterior, a agência havia informado que aguardava o relatório final do Cenipa. "A Anac reforça que é preciso aguardar a divulgação do relatório final e as recomendações do Cenipa nele contidas para, se necessário, implementar procedimentos eventualmente relacionados aos fatores contribuintes do acidente." Procurada pelo g1, a família do piloto Edison dos Santos Mendes Alves não quis falar sobre as circunstâncias do acidente. A Majam Participações, empresa que havia escalado Santos para a viagem em 2022, não havia se posicionado sobre o caso até a publicação desta reportagem. Destroços do helicóptero que caiu no Jaraguá Divulgação/Corpo de Bombeiros A queda do helicóptero Em 5 de agosto de 2022, um helicóptero caiu sobre a floresta do Parque Taipas no bairro Jaraguá, em São Paulo, por volta das 21h. A queda resultou na morte dos únicos ocupantes da aeronave, o piloto Edison dos Santos Mendes Alves e o copiloto João Augusto Hjertquist Tremeschin. A aeronave havia decolado da capital com destino a Extrema (MG) para buscar Guilherme Benchimol, fundador e presidente Executivo do Conselho de Administração da XP Investimentos. De acordo com informações apuradas no inquérito policial, Edison estava no comando e era colaborador da empresa responsável pela operação do helicóptero, a Majam Participações. Já João Augusto era funcionário da JTBFly, empresa que tinha sido contratada para buscar o empresário, a quem a Majam havia cedido o uso da aeronave. Em uma viagem anterior, tinha sido ele o responsável por levar o empresário até Minas Gerais. "A presença dele se justificou por uma exigência do cliente", afirma Samy Garson, advogado da família de Tremeschin. As investigações e o laudo necroscópico As investigações conduzidas pela Polícia Civil naquele ano não apontaram uma causa específica para a queda nem responsabilizaram piloto ou empresas pelo ocorrido. "Tendo em vista a disposição de destroços e a extensão dos danos observados na mata, pode-se afirmar que a aeronave possuía velocidade horizontal rumo a seu destino, ou seja, a hipótese mais provável é de que ela não possuía intenção de pouso quando em sua queda. A atitude da aeronave ocorreu por fatores não determinados neste documento", documentaram as autoridades, na época. Segundo a perícia, a aeronave estava em condições de utilização. Por outro lado, o laudo necroscópico encontrou, no organismo de Edison, as seguintes substâncias: 62 nanogramas (ng) de cocaína por ml de sangue; produtos da biotransformação da cocaína; produto da biotransformação do Clonazepam (ansiolítico); Venlafaxina (medicamento usado no tratamento da depressão); Zolpidem (sedativo usado para tratar insônia). Nesse contexto, familiares de João Augusto alegaram por meio de petições que a Majam escalou o piloto Edison mesmo sabendo que ele tinha recentemente enfrentado um quadro de depressão. A Majam, por sua vez, informou que, pelo fato de ser de uso privado, a aeronave estava sujeita apenas ao regulamento RBAC 91, mas não ao “Programa de Prevenção do Risco Associado ao Uso Indevido de Psicoativas na Aviação Civil”. Por fim, o Ministério Público arquivou o caso, argumentando, entre outras questões, a extinção da punibilidade, já que, ainda que fossem responsabilizados, os pilotos haviam morrido. Além disso, argumentou que as investigações do Cenipa, mesmo quando estivessem concluídas, não serviriam para apontar culpados, mas sim informações para se evitar acidentes futuros. Piloto de Ribeirão Preto, SP, morre durante queda de helicóptero em São Paulo O que apontou o Cenipa Divulgado este mês, depois de mais de três anos, o relatório do Cenipa relatou uma série de problemas que podem ter contribuído para o acidente, mas não fez recomendações específicas à Anac. "Divulgar os ensinamentos colhidos nesta investigação durante os eventos de promoção da segurança operacional, objetivando difundir os riscos associados aos voos VFR [tipo de voo em que o piloto tem referências visuais de solo, horizonte e de outras aeronaves] em condições restritas de visibilidade assim como a necessidade do cumprimento dos requisitos estabelecidos nas normas em vigor", comunicou o centro. Por outro lado, ao descrever os detalhes em torno do incidente, o relatório considerou relevantes as informações do laudo toxicológico no piloto. O exame apontou a presença de metabólitos de cocaína, além de clonazepam, venlafaxina e zolpidem, proibidos por uma portaria de 1998 do Ministério da Saúde e, por sua ação psicoativa, fora dos requisitos da instrução normativa que estabelece requisitos para a concessão de Certificado Médico Aeronáutico (CMA). "No contexto da aviação, o uso de substâncias psicoativas por um piloto pode reduzir sua capacidade de resposta rápida e precisa aos estímulos, afetando negativamente a concentração e o desempenho durante o voo. Isso pode ter comprometido as funções cognitivas do PIC, dificultando a identificação e a resposta às ameaças vivenciadas nesta ocorrência", publicou o Cenipa. No mesmo documento, o Cenipa também menciona como um possível fator contribuinte o estado emocional do piloto, que pode ter impactado a sua capacidade cognitiva, seu humor, sua consciência e sua capacidade de tomar decisões. "O PIC enfrentava desafios pessoais, incluindo problemas familiares e estado depressivo, que o levaram a se afastar temporariamente das funções de voo. Esses desafios pessoais e o consequente uso de substâncias psicoativas são exemplos de influências externas que podem ter afetado negativamente a sua performance no trabalho." O centro de investigações ainda relata que, embora o piloto tivesse experiência nessa modalidade de sobrevoo - VFRs - pode ter sido prejudicado por condições meteorológicas adversas e baixa luminosidade. O órgão ainda citou a falta de aderência às normas como um fator relevante combinado com o uso de substâncias psicoativas. "O comportamento de prosseguir o voo visual em condições meteorológicas adversas, aliado ao uso de substâncias proibidas para a atividade aérea evidenciou uma conduta contrária aos preceitos de segurança e aos regulamentos estabelecidos pela autoridade aeronáutica." O que diz a família do copiloto Advogado da família de Tremeschin desde a fase do inquérito policial, Garson questiona, entre outras coisas, a falta de interesse das autoridades na época por investigar o caso, sobretudo com relação às condições do piloto de assumir o comando. Isso, mesmo depois de o laudo necroscópico, onde constavam as informações sobre as substâncias psicoativas, serem anexadas ao processo. A família também criticou a demora nas investigações do Cenipa e a falta de conclusões mais contundentes sobre o caso. Para os parentes, o episódio deveria servir de exemplo para uma mudança nas regras relacionadas à aviação particular, sobretudo com relação à cessão de aeronaves entre diferentes empresas e sobre a obrigatoriedade de exames toxicológicos nos pilotos. "A recomendação de segurança do Cenipa me decepciona profundamente. Não falaram nada sobre um controle mais rígido do uso de drogas ou sobre o acompanhamento da saúde mental dos pilotos. Mesmo com tudo registrado e comprovado. É muito doloroso ver um órgão que deveria zelar pela prevenção de novos acidentes ignorar essa situação e não fazer nada por uma mudança", afirma a mãe de Tremeschin. Veja mais notícias da região no g1 Ribeirão Preto e Franca VÍDEOS: Tudo sobre Ribeirão Preto, Franca e região

FONTE: https://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/noticia/2025/09/17/familia-pede-regras-mais-rigidas-na-aviacao-privada-3-anos-apos-queda-de-helicoptero-que-matou-piloto-e-copiloto.ghtml


#Compartilhe

Aplicativos


Locutor no Ar

Peça Sua Música

Top 5

top1
1. Raridade

Anderson Freire

top2
2. Advogado Fiel

Bruna Karla

top3
3. Casa do pai

Aline Barros

top4
4. Acalma o meu coração

Anderson Freire

top5
5. Ressuscita-me

Aline Barros

Anunciantes