Como brasileira condenada por mandar matar ex-marido há 20 anos teve paradeiro descoberto e foi presa pela Interpol na Itália
20/09/2025
(Foto: Reprodução) Flávia Alves Musto foi condenada a mais de 20 anos de prisão por mandar matar ex-marido, Isaías de Lira, no Grande Recife
Reprodução/WhatsApp
Flávia Alves Musto é a brasileira presa há uma semana pela Interpol na cidade de Pisa, na Itália, após ser condenada por mandar matar o ex-marido há duas décadas em Paulista, no Grande Recife. A mulher é acusada de contratar pistoleiros para sequestrar e assassinar a tiros Isaías de Lira, de 27 anos, encontrado morto numa estrada de terra em 14 de agosto de 2005 (saiba mais abaixo).
Segundo a família da vítima, o paradeiro dela era desconhecido desde 2015 e só foi descoberto por uma das irmãs de Isaías, a assistente jurídica Allira Lira, no início deste mês. As informações foram publicadas pela Folha de Pernambuco e confirmadas pelo g1.
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Allira contou que descobriu onde a mulher estava depois que encontrou, com a ajuda de um amigo, uma certidão de casamento registrada no nome da ex-cunhada com um italiano num cartório de Petrolina, no Sertão do estado. A descoberta se deu enquanto ela concluía a escrita de um livro sobre o caso. O g1 tenta contato com a defesa de Flávia Alves Musto.
"Tive que folhear o processo inteiro para contar tudo o que houve e colocar número de inquérito, de tudo. Quando eu abri o CPF dela, encontrei um processo no nome de Flávia Alves Musto na 3ª Vara Cível de Camaragibe (no Grande Recife). [...] Só que ela já tinha dois nomes antes: Flávia Alves de Souza, que era o nome de solteira, e Flávia Alves de Lira, que era o nome de casada com o meu irmão. Ela se casou com o nome de Flávia Alves Musto, mas o CPF era o mesmo", explicou.
A irmã da vítima contou que pediu a um amigo que trabalha como detetive para localizar o atual marido da ex-cunhada.
Allira disse que não sabe como Flávia conheceu o italiano e conseguiu viajar para fora do país mesmo já sendo considerada foragida da Justiça. Também não se sabe desde quando ela vive na Europa.
"Quando a gente foi para as redes sociais, descobriu que ele mora em Pisa. [...] Puxei a certidão [de casamento] dela e mandei para o Ministério Público, cobrando. Eu fiz: 'olha, ela está na Itália, casada com italiano, vocês não vão fazer nada?'. [...] Aí o Ministério Público acionou a Interpol. Quando acionou a Interpol, rapidinho pegaram ela", informou.
Torre de Pisa, cidade onde Flávia Alves Musto foi detida pela Interpol, é um dos pontos turísticos mais famosos da Itália
Miguel Medina/AFP
Sequestro e execução
Natural de de Sobradinho (BA), a acusada se casou com Isaías em 2001 e morava com ele no bairro de Aldeia, em Camaragibe. Segundo os autos do processo, o relacionamento era conturbado e durou pouco mais de dois anos. Durante as investigações, testemunhas contaram que ela se mostrava muito ciumenta e que o casal chegou a se separar sete vezes nesse período.
De acordo com Allira, o irmão dela decidiu encerrar definitivamente o casamento após descobrir que havia sido traído e passou mais de um ano sendo perseguido pela ex-esposa, que não queria aceitar o fim da relação. Também consta no processo que Flávia planejou o crime ao saber que Isaías estava começando a se relacionar com outra mulher.
Ainda segundo a irmã da vítima, Isaías foi assassinado um dia depois de completar 27 anos, em 13 de agosto de 2005. Ele estava comemorando com um grupo de amigos em um bar no bairro de Dois Irmãos, na Zona Norte do Recife, quando foi sequestrado.
Conforme testemunhas, dois criminosos disfarçados de policiais entraram no estabelecimento, dizendo que Isaías seria conduzido à delegacia para responder sobre um suposto esquema de tráfico de drogas que envolvia um amigo dele.
"Perguntaram quem era Isaías de Lira. Aí meu irmão, coitado, olhou, assim, e disse: 'sou eu, por quê?' Aí ele disse: 'você está preso. Dennis já está na Delegacia de Entorpecentes de Casa Amarela". Aí meu irmão fez assim: "oxente, o que é que eu tenho a ver com isso?'. Aí ele fez: "siga com a gente e depois você volta". E foi logo metendo algema no meu irmão'", contou Allira.
A irmã disse também que, segundo os relatos, a vítima tentou resistir, mas acabou sendo arrastada para dentro do veículo.
"Quando o meu irmão foi se aproximando do carro, ele não quis entrar, quis voltar. Aí os caras quiseram coagir ele, cochicharam no ouvido dele [...]. Os meninos foram para cima de um dos caras e disseram: 'se identifica, você não é polícia'. Aí ele atirou no pé de um dos rapazes e disse: "Nossa identificação é essa". E saíram arrastando o carro Polo com o meu irmão dentro", afirmou.
Ainda de acordo com Allira, os amigos da vítima tentaram seguir o carro, mas perderam o veículo de vista quando entraram na BR-101. O corpo de Isaías foi encontrado no dia seguinte, pela polícia, na Estrada de Jaguarana, no bairro de Maranguape 2.
Sete anos de inquérito
Segundo a irmã de Isaías, o inquérito levou sete anos para ser concluído e passou por seis delegados diferentes. Allira disse que, diante da demora, resolveu estudar direito e contou que as investigações só começaram a andar depois que ela conheceu o promotor de Justiça que acompanhava o caso quando era estudante, em 2011.
No ano seguinte, o inquérito foi concluído com a decretação da prisão preventiva de Flávia Alves. Ela permaneceu detida até 2014, quando acabou o prazo de detenção e ela foi solta, respondendo ao processo criminal em liberdade. A partir de então, a ré deixou de comparecer às audiências, segundo a irmã da vítima.
"Em 2015, fez a Justiça botar ela como foragida, porque ela não estava indo [às audiências]. [...] Menos de um ano, meses depois de solta, ela se casou com o italiano", disse Allira.
De acordo com o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), Flávia Alves foi condenada, em 2019, a 29 anos de prisão pela Vara Criminal de Paulista por homicídio qualificado, com as agravantes de "motivo fútil" e "recurso que impossibilitou a defesa da vítima". Após a defesa recorrer da decisão, a pena foi reduzida para 21 anos de reclusão.
Após ser localizada pela Interpol, Flávia foi encaminhada para uma unidade prisional na Itália, onde aguarda a análise de um pedido de extradição feito pela Justiça brasileira.
⬇️ Veja, no vídeo abaixo, as diferenças entre homicídio culposo e homicídio doloso:
Quais as diferenças entre o homicídio culposo e doloso?
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